Desregulação das APOBECs e sua contribuição para o estabelecimento de perfis mutacionais em carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço e esôfago
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Abstract
A família de enzimas AID/APOBEC, envolvida no processo de edição do DNA/RNA, é associada ao
estabelecimento de assinaturas mutacionais específicas em câncer. Em carcinoma epidermoide de esôfago
(CEE), essas assinaturas estão presentes em cerca de 90% dos casos, sendo responsáveis por 25% da carga
mutacional. O carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço (CECP) apresenta superexpressão de
APOBEC3B e assinatura mutacional mediada por APOBEC. Ambos os tumores são frequentes em homens
no Brasil, altamente letais e compartilham semelhanças morfológicas e etiológicas. Porém, a causa da
desregulação de AID/APOBEC em tumores é desconhecida. Assim, esta tese visou dissecar a desregulação
de AID/APOBECs em CEE e em CECP. Nossos dados mostraram que CEE e carcinoma epidermoide de
laringe (CEL) apresentam as maiores cargas mutacionais, mas a fração de contribuição das assinaturas de
APOBEC é maior em carcinoma epidermoide de orofaringe (CEOF) HPV-
. Essas assinaturas foram
associadas à expressão das APOBECs da família 3 nesses tipos de câncer, sendo APOBEC3A e APOBEC3B
em CEE. Essas enzimas também estão superexpressas nos tumores em relação às mucosas adjacentes não
tumorais. Em CEOF, tumores HPV+ apresentam maior expressão de APOBEC3s do que tumores HPV-
. Em
seguida, avaliamos se alterações genéticas e/ou epigenéticas estariam envolvidas na desregulação dessas
enzimas, mas esses foram eventos raros nas casuísticas estudadas. A metilação de elementos
retrotransponíveis foi avaliada como um possível mecanismo de indução de resposta antiviral e consequente
indução da expressão de APOBECs. Os níveis de metilação de cerca de 30% dos elementos ALU avaliados
foram inversamente correlacionados com a expressão de APOBEC3A em CEE. Uma vez que a interação
com o sistema imune também pode participar da regulação de APOBECs, avaliamos a correlação entre a
proporção dessas células na massa tumoral e as assinaturas e expressão dessas enzimas. Foram observadas
correlações significativas com macrófagos (M0, M1, M2) em CECP e CEE. Além disso, correlações diretas
entre as assinaturas mutacionais e a proporção de células TCD4 de memória e células TCD8 foi observada
em tumores orais. A partir de dados de RNAseq de single cell em CEE, observamos que todas as APOBECs
são detectadas em células epiteliais e que APOBEC3A é mais expressa em células epiteliais e mieloides.
Prosseguimos com a avaliação dos mecanismos envolvidos na indução dessas enzimas utilizando como
modelo experimental linhagens de CEE (TE1 e TE13). Para isso, três abordagens foram utilizadas:
tratamentos com agente desmetilante, com interferons e com RNA de dupla fita, nos quais avaliamos a
expressão das APOBEC3A, 3B e 3D e os controles positivos de resposta antiviral mediada por IFN DDX58,
MDA5 e IRF7. Apesar de não terem sido observadas diferenças estatisticamente significativas, a expressão
de APOBEC3A foi induzida em níveis semelhantes àqueles observados nos controles positivos. Assim,
APOBEC3A parece ter um papel importante no estabelecimento da assinatura mutacional em CEE e na
interação com o microambiente tumoral e parece ser induzida por agente desmetilante e por interferons.
Description
214 p.: il. color.
Citation
FAGUNDES, Marina Chianello Nicolau. Desregulação das APOBECs e sua contribuição para o estabelecimento de perfis mutacionais em carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço e esôfago. 2021. Tese (Doutorado em Oncologia) - Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, 2021.