A evolução da mortalidade por câncer do colo do útero: uma discussão sobre idade, período e corte
Loading...
Date
Authors
Journal Title
Journal ISSN
Volume Title
Publisher
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
Abstract
Desde o começo de minha vida profissional estive envolvida, preocupada, com a atenção à
saúde das populações menos favorecidas do ponto de vista socioeconômico. De início, foram
as crianças. Aquelas que, de tanto ver e rever como médica, sem conseguir mudar suas
condições de saúde – quando não atestar seu óbito – me fizeram buscar o caminho da Saúde
Pública como aquele que me permitiria, como eu achava então, atuar de uma forma mais
efetiva e de maior alcance. Passaram-se muito anos desse devaneio, desse pensamento que
hoje acho pretensioso, e meus caminhos profissionais tomaram rumos muito variados. Mas
sempre na Saúde Pública. Acho que tive sorte quando comecei essa trajetória em plena
batalha pela Reforma Sanitária brasileira, que teve como consequência a criação do Sistema
Único de Saúde, o SUS. Uma conquista preciosa da sociedade brasileira, frequentemente
subestimada por quem não sabe do ‘antes do SUS’. Atuei por muitos anos no planejamento e
na gestão no Instituto Nacional de Câncer o que me permitiu vivenciar a importância de se
oferecer cuidados de saúde de excelência, adequados às necessidades de quem busca
atendimento, no âmbito do SUS. Minha atuação nessa área, sempre pautada pelas
necessidades de saúde – o campo da Epidemiologia – me fizeram buscar o meu mestrado. Foi
então que passei a querer conhecer cada vez mais métodos que me permitissem um melhor
conhecimento da realidade da saúde da população brasileira e foi assim que acabei chegando
ao doutorado e ao assunto que motivou essa tese. O Sistema Único de Saúde completou 25
anos em 2013 e sabemos que, embora muito se tenha feito, muito há por fazer. Essa não é a
ocasião de se falar dos problemas estruturais do SUS, sobretudo dadas as dificuldades em se
fazer cumprir a Constituição Brasileira em muitos outros aspectos. Minha pretensão nessa tese
é a de reafirmar que as diferenças que determinam gradientes de mortalidade estão longe de
serem superadas. Uma doença como o câncer do colo do útero, que escolhi por sua condição
marcadora, que apresenta taxas de mortalidade nos patamares atuais, é a demonstração de
que o alcance dos princípios norteadores do SUS está longe. Cabe aos que, como eu, querem
ver um sistema de saúde universal, integral e equânime, buscar seus problemas para apontar
possíveis soluções. E, como se pode perceber, insisto em buscar uma forma mais efetiva e de
maior alcance na minha atuação.