Mielofibrose Primária: Análise do perfil clínico e genômico
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A mielofibrose primária (MFP) é uma neoplasia mieloproliferativa (NMP), doença que tem
origem em uma célula tronco-hematopoética mutada. A MFP cursa com expressão anormal
de citocinas, fibrose medular, hematopoiese extramedular, hepatoesplenomegalia,
trombose, anemia e sintomas constitucionais. A progressão da doença envolve
transformação para leucemia mieloide aguda. Atualmente, a única modalidade de
tratamento com potencial curativo é o transplante alogênico de células-tronco
hematopoiéticas. Sistemas de estratificação de risco como The International Prognostic
Scoring System (IPSS) consideram características clínicas e laboratoriais para classificar
pacientes com MFP em baixo, intermediário 1 e 2 e alto risco. Diversos estudos
descreveram a arquitetura clonal da MFP e mostraram o impacto prognóstico de diferentes
alterações genômicas, incluindo número e combinação de mutações somáticas. Novas
propostas de sistemas de classificação buscam incorporar informações acerca de
marcadores moleculares para estratificação de risco. Neste estudo, analisamos
características clínicas, laboratoriais e genômicas de 32 pacientes com MFP, provenientes
de dois centros no Rio de Janeiro (HUPE e HUAP) e referidos ao Laboratório de Biologia
Molecular do CEMO-INCA. As características demográficas, clínicas e laboratoriais foram
coletadas através da ficha clínica elaborada pelo grupo de pesquisa em NMPs. A
caracterização genômica foi realizada em nosso laboratório e incluiu: análise dos
marcadores moleculares de diagnóstico JAK2V617F, CALR e MPL e de sequenciamento de
próxima geração (NGS) para um painel customizado, cobrindo a região exônica completa de
37 genes recorrentemente mutados em neoplasias mieloides. Em 94% dos pacientes pelo
menos uma mutação de driver foi encontrada. Pacientes com mutação em JAK2, quando
comparados a pacientes com mutação em CALR, apresentaram idade ao diagnóstico,
contagem de leucócitos e níveis de hemoglobina significativamente maior. Com relação às
mutações adicionais analisadas por NGS, a maioria foi do tipo missense. O gene com maior
frequência de mutações foi ASXL1 (11 mutações). 12 pacientes apresentaram 1 mutação, 8
pacientes, 2 mutações, 6 pacientes, 3 mutações e 6 pacientes apresentaram 4 ou mais
mutações. Quando agrupados em função da quantidade de mutações, os pacientes
apresentaram diferença estatisticamente significativa na sobrevida. Além disso, verificou-se
que 33,3% dos pacientes apresentaram mutações em genes que foram descritos na
literatura como tendo impacto negativo no prognóstico (High Molecular Risk ou HMR), sendo
que a presença de duas mutações HMR foi detectada em 12,1%. Quando estratificados pelo
sistema de pontuação IPSS, 9 pacientes encontravam-se na categoria de risco baixo, 11
pacientes na categoria de risco intermediário-1, 10 pacientes na categoria de risco
intermediário-2 e 2 pacientes na categoria de risco alto. Utilizando as informações clínicas,
laboratoriais e genômicas disponíveis, aplicamos o modelo de estratificação de risco
personalizado descrito por Grinfeld et al. Por meio desse sistema, foi possível observar
heterogeneidade na sobrevida esperada para cada paciente, mesmo entre pacientes
classificados no mesmo grupo de risco pelo IPSS. E pacientes que apresentavam maior
número de mutações apresentavam um pior risco prognóstico. A análise realizada neste
trabalho corrobora a relevância da caracterização genômica dos pacientes para
determinação de seu prognóstico personalizado, o que poderia contribuir para
individualização terapêutica na MFP.
Description
104 p.: il. color.
Citation
VIEIRA, Rafaela Reis. Mielofibrose Primária: Análise do perfil clínico e genômico. 2021. Dissertação (Mestrado em Oncologia) - Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, 2021.