Estadiamento clínico de tumores de cavidade oral e de orofaringe nos Registros Hospitalares Brasileiros, 2000-2013

Abstract

Vários fatores de risco foram amplamente documentados para o câncer de cavidade oral e de orofaringe, no entanto, a maioria dos casos continua sendo diagnosticada tardiamente. Portanto, é necessário realizar estudos que analisem fatores que podem influenciar o diagnóstico tardio em grandes populações. O objetivo deste estudo foi comparar as características clínicas e sócio demográficas dos pacientes com câncer de cavidade oral e de orofaringe nos estádios precoce e tardio da doença e identificar preditores de diagnóstico precoce. É um estudo transversal, utilizando dados públicos disponíveis coletados dos Registos Hospitalares de Câncer no Brasil no período de 2000-2013. Os estádios I e II de TNM foram agrupados e definidos como diagnóstico precoce, enquanto os estádios III e IV foram definidos como diagnóstico tardio. Inicialmente foi realizada a análise do mecanismo de perda. A regressão de Poisson bivariada e multivariada foi utilizada usando variância robusta para determinar a associação entre as variáveis e a ocorrência de diagnóstico precoce (desfecho) em cada região do país. A razão de prevalência ajustada e não ajustada (RP) foi calculada com um intervalo de confiança de 95% (IC). O valor p <0,05 foi considerado significativo. A análise foi feita usando o software STATA 14. Obtivemos 62115 casos, dos quais 49142 apresentaram estadiamento completo. A partir da análise do mecanismo de perda foi possível concluir que a perda foi aleatória, permitindo o uso de casos com estadiamento completo nas análises subsequentes. Em todas as regiões do país, os tumores de cavidade oral tiveram o estadiamento clínico mais precoce quando comparados aos tumores de orofaringe. Durante o período analisado, observou-se um aumento do diagnóstico tardio em todas as regiões, exceto na região Sul. A denominada cor de pele "branca" provou ser um preditor de diagnóstico precoce somente na região Nordeste. Os pacientes casados apresentaram mais chances de diagnóstico precoce, em comparação com os não casados, nas regiões Nordeste e Sul. Pode-se concluir que os não-brancos, do sexo masculino, com menor nível de educação, com idade entre 50-59 anos, solteiros e encaminhados pelo Sistema único de Saúde (SUS) precisam ser melhor assistidos por políticas públicas e pelos profissionais de saúde para o rastreio desses cânceres, principalmente para os tumores de orofaringe.