Diversidade genética do vírus EPTEIN-BARR
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O vírus Epstein-Barr (EBV) é um ɣ-Herpesvírus transmitido pela saliva e que infecta
assintomaticamente >90% da população adulta mundial. Entretanto, o EBV é associado
etiologicamente ao desenvolvimento de linfoproliferações benignas e malignas. O EBV possui um
genoma dsDNA com ~170kb e se divide em dois tipos principais com propriedades biológicas
diferentes: EBV-1 e EBV-2. Os mecanismos carcinogênicos mediados pelo EBV não são
compreendidos em sua totalidade, e postula-se que variantes oncogênicas virais podem atuar
nesses mecanismos. A incidência dos cânceres associados ao EBV apresenta grande variação
geográfica, podendo estar relacionada a fatores sociogeográficos, étnicos e genéticos, sendo
importante diferenciar fatores virais restritos geograficamente daqueles associados a processos
tumorigênicos específicos. Neste trabalho, caracterizamos a diversidade do EBV na população do
Brasil (BR), com o intuito de entender seu papel no contexto da epidemia Sul-Americana. Foram
analisadas 83 amostras EBV+, incluindo carreadores assintomáticos (CA, 54,2%) e patologias
benignas e malignas (PB e PM respectivamente, 45,8%). A classificação através de assinaturas
aminoacídicas da região codificante (cds), de LMP1 indicou a presença de cinco diferentes cepas,
com uma prevalência de 40% Med/AG876/Daudi (Med), 39% Raji/Argentine (Raji), 6% B95-8, 6%
China1/CAO e 1% China2. Análises evolutivas demonstram que 79% das amostras se agruparam
em dois clados com alto suporte: 40% relacionadas à variante Med (aLRT=0.95) e 39%
relacionadas à variante Raji (aLRT=0.92). De forma surpreendente, as sequências oriundas dos
CA e PB agruparam-se majoritariamente (61%) no clado Med, enquanto sequências relacionadas
às patologias malignas agruparam-se em sua maioria (66,7%) no clado Raji, p=0,041.
Polimorfismos da LMP1 de importância oncogênica (I124L/I152L, ins15pb e del30pb) foram mais
frequentes no clado Raji do que no clado Med (p<0,0001 para todos os polimorfismos). Além disso,
foi observado uma frequência significativamente maior (p=0,02) de cepas tipo1/V3 com alto poder
replicativo no clado Raji (p=0,02). Para colocar as novas sequências de LMP1 do EBV do BR em
um contexto global, adicionamos 252 sequências do LMP1 disponíveis publicamente nas análises
filogenéticas por máxima verossimilhança. As cepas brasileiras se agruparam com outras da
América do Sul, caracterizando as linhagens Raji/Argentine (BR=35, Argentina (AR)=33; aLRT=1)
e Med [BR=33, AR =11; aLRT=0.91] como as principais em circulação na América do Sul, reunindo
71,9% das sequências. Através de análises filogeográficas bayesianas, reconstruímos a dinâmica
das migrações virais do clado Raji/Argentine, aqui redefinido como “South American”. A filogenia
mostrou que a linhagem derivada de Raji circulante na América do Sul se originou através de uma
introdução viral proveniente do continente Africano para o Brasil entre os séculos XVII e XIX, e
que posteriormente se disseminou para outros países da região (AR e Peru) e para a Europa.
Nossos resultados demonstram uma grande diversidade genética do EBV circulante no Brasil,
além de apontar a existência da associação entre mutações no LMP1 presentes na variante Raji
do BR com patologias malignas. O Brasil parece ter sido a origem e principal fonte de
disseminação da variante Raji Sul-Americana derivada da cepa africana Raji. Em conjunto, esses
dados destacam a grande diversidade genética do EBV, e a importância do monitoramento e
avaliação das mutações no potencial patogênico das diferentes cepas.
Description
140 p.: il. color.
Citation
ALVES, Paula Daniela Souza. Diversidade genética do vírus EPTEIN-BARR. 2021. Tese (Doutorado em Oncologia) - Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, 2021.