Interferência da indústria do tabaco sobre os dados do consumo de cigarro no Brasil
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A indústria de tabaco normalmente superestima o tamanho do mercado ile gal para reforçar a ideia de sua relação direta com a escolha de aumentar
impostos feita pela administração tributária. No Brasil, o último aumento de
tributos sobre produtos de tabaco foi em 2016. O crescimento da demanda por
cigarros ilegais tem outros determinantes macrossociais que a indústria não
considera, tal como o aumento da capacidade econômica de adquirir cigarros
legais. O objetivo deste artigo é testar essa hipótese da “razão econômica do
consumidor brasileiro”, entre 2015 e 2019, ao comparar a estimativa do con sumo de cigarros ilegais obtida com base em fontes de dados oficiais do gover no sobre produção legal e consumo de cigarros com a “estimativa extraoficial”
fornecida pela indústria. Utilizaram-se, ainda, os dados oficiais nacionais de
rendimento mensal oriundo do trabalho. A “capacidade aquisitiva de cigarros
legais” da população brasileira aumentou sistematicamente entre 2016 e 2019,
passando de 412 maços/mês para 460 maços/mês. A diferença absoluta entre
a estimativa da indústria do tabaco e a estimativa com base em dados oficiais
do volume de cigarros ilegais consumidos aumentou no tempo, chegando a
+30,2 bilhões de unidades em 2019. Já o consumo de cigarros legais, calculado
com dados oficiais, aumentou entre 2016 e 2019 (+7,8 bilhões), sendo que a
indústria encontrou uma redução deste consumo (-9,5 bilhões). Os gestores de veriam basear suas decisões em estimativas geradas valendo-se de fontes ofi ciais de informação, incluindo os dados macroeconômicos de emprego e renda,
ao invés de se apoiarem em estimativas geradas pela indústria do tabaco com
o intuito de interferir sobre as políticas públicas.