Considerações sobre a relação entre o consumo de bebidas muito quentes e Câncer: café e chá-mate em foco
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Revista Brasileira de Cancerologia
Abstract
O consumo de bebidas quentes no Brasil é bastante
difundido, sendo representado principalmente pelo
café e chá-mate. Em média, a aquisição per capta anual
domiciliar dos brasileiros é de 2,6kg de café, com pequenas
variações entre as regiões do país1
. Os chás são consumidos
em menores quantidades - 0,5kg/per capta/ano - sendo
desses, 96,4% representados pelo chá-mate. Contudo,
na Região Sul, o mate é amplamente consumido, com
aquisição domiciliar per capta de 2,9/kg/ano, superando
a média nacional de consumo de café. Na área rural dessa
região, a média chega a 5,4kg/per capta/ano1
.
A relação entre o consumo de café e a incidência
de câncer tem sido investigada há décadas. Em uma
monografia lançada pela International Agency for Research
on Cancer (IARC), em 1991, o café foi classificado como
substância possivelmente carcinogênica para humanos
(Grupo 2B), com base em evidências limitadas oriundas
de estudos epidemiológicos que associavam seu consumo
ao câncer de bexiga2
. Essas evidências foram assim
consideradas tendo em vista a possibilidade de viés ou
fatores de confundimento que pudessem levar à associação
entre câncer e a exposição regular ao café. Além disso,
alguns achados já apontavam ausência de carcinogenicidade
para câncer de mama e intestino grosso e evidências
inadequadas para outros tipos de câncer2
.
Por outro lado, os relatórios de atualização do World
Cancer Research Fund/American Institute of Cancer
Research (WCRF/AICR) apontaram evidências prováveis
de diminuição no risco de desenvolvimento de câncer
hepático e de endométrio, frente ao elevado consumo da
bebida de café 3,4.
Já o chá-mate quente havia sido classificado, em
1991, pela IARC como provavelmente carcinogênico
para humanos (Grupo 2A), com base em alguns estudos
de caso-controle realizados na América do Sul que
apontaram associações positivas do consumo da bebida
com o carcinoma de células escamosas de esôfago2
.
No entanto, essas associações, em sua maioria, não
haviam sido controladas pela temperatura na qual a
bebida era consumida e, quando desconsiderado o fator
temperatura, o mate foi classificado no Grupo 3 – não
classificado como carcinogênico em humanos2
.
Os possíveis mecanismos pelos quais o mate poderia
elevar o risco de carcinoma de células escamosas
de esôfago não estavam claros. Seria a presença de
agentes carcinógenos no extrato da planta e/ou a elevada
temperatura de consumo da bebida?
Frente às limitações que embasaram a classificação
da bebida de café e chá-mate pela IARC em 1991 as novas evidências a respeito do consumo regular
dessas bebidas com o risco de câncer e as incertezas
referentes aos possíveis mecanismos envolvidos nessas
associações, a IARC, em 2014, definiu a reavaliação
da carcinogenicidade do café e do chá-mate como
de alta prioridade e avaliou pela primeira vez a
carcinogenicidade de bebidas muito quentes.
Diante das atualizações disponíveis sobre o tema,
considera-se relevante destacar os apontamentos mais
recentes sobre a relação entre o consumo dessas bebidas
e o câncer.
Description
p. 155-158.
Citation
MOREIRA, Luciana Grucci Maya et al. Considerações sobre a relação entre o consumo de bebidas muito quentes e Câncer: café e chá-mate em foco. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 62, n. 2, p. 155-158, 2016.