Para além da doença: explorando as representações sociais do acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama em mulheres negras

Abstract

Introdução: O câncer de mama é uma das principais causas de morte entre mulheres em todo o mundo. Mulheres negras são frequentemente sub-representadas nos estudos epidemiológicos, o que pode contribuir para lacunas no atendimento e na equidade em saúde. Estudos indicam que essas mulheres podem ser mais suscetíveis a diagnósticos tardios e formas mais agressivas da doença. Dessa forma, compreender o perfil sociodemográfico e clínico dessas mulheres, bem como as representações sociais da doença são essenciais para direcionarem políticas públicas e intervenções de saúde. Objetivo: Identificar os fatores sociodemográficos que caracterizam mulheres negras com câncer de mama e as representações sociais que interferem no acesso ao diagnóstico e tratamento. Método: Estudo quantitativo/qualitativo pautado na Teoria das Representações Sociais, realizado entre julho e agosto de 2024, em um Centro de Alta Complexidade em Oncologia da cidade do Rio de Janeiro. Foram incluídas 80 mulheres pretas ou pardas em tratamento de câncer de mama, selecionadas de forma não probabilística. Os dados sociodemográficos foram coletados por meio de entrevista e análise de prontuário. Para acessar a estrutura das representações sociais, foi aplicada a técnica de evocação livre, a partir dos termos indutores “Acesso ao Diagnóstico” e “Acesso ao Tratamento”, ao qual foi solicitada a associação de cinco palavras para cada termo. Resultados: A maioria das mulheres se autodeclararam pardas (58,8% vs 41,3%). Apresentaram-se como provável núcleo central: medo, tristeza, fé e difícil (acesso ao diagnóstico); rápido, medo e demora (acesso ao tratamento). A fragilidade para com o acesso ao diagnóstico e tratamento ocorreu pelo fato de que para algumas mulheres houve agilidade, enquanto para outras o sistema foi moroso. Reconhece-se o predomínio de elementos negativos, ainda que haja alguns positivos como esperança, cura e Deus na representação do grupo. A doença em voga carreia estigma, tornando o enfrentamento um processo doloroso e triste. Conclusão: É possível observar uma estrutura representacional que engloba aspectos cognitivos, afetivos e práticos, os quais se manifestam em sentimentos, conhecimentos e atitudes. Identifica-se a necessidade do profissional no processo de consolidação e desconstrução de certas representações por meio do cuidado, atentando para que a discriminação e o preconceito não atuem como barreiras que impedem a transformação das relações étnico-raciais.