Diabetes e Gênero: Diferenças na mortalidade, prevalência e modificação de efeito do status socioeconômico
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Rio de Janeiro: UFRJ / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2017.
Abstract
A presente tese de doutorado foi desenvolvida considerando que o termo sexo é definido
como a caracterização genética e anátomo-fisiológica dos seres humanos, fazendo parte da
constelação de fatores que compõem o termo gênero. O gênero, por sua vez, constitui uma
construção sociocultural que está relacionada às diferenças relacionais e de poder
estabelecidas entre mulheres e homens historicamente. Portanto, transcende a questão
biológica e envolve diversos elementos como identidade, valores, prestígio, regras, normas,
comportamentos, sentimentos, entre outros. Como a informação registrada nas bases de dados
analisadas nesta tese era referente ao sexo e não ao gênero, buscou-se avaliar se já pode ser
observada, nas estatísticas brasileiras de mortalidade por diabetes mellitus, a mudança da
preponderância do sexo feminino para um padrão de igualdade, ou mesmo de predomínio do
sexo masculino e investigar a presença de efeito modificador do status socioeconômico na
associação entre sexo e prevalência de diabetes mellitus tipo 2. Entretanto, considerando que
durante a vida o fato de ser homem ou mulher produz riscos distintos, algumas vezes tendo o
fator biológico um peso maior e, em outros momentos, predominando a questão
socioeconômica e cultural, incluiu-se uma discussão sobre gênero e saúde na introdução e nos
dois artigos elaborados, justificando o termo gênero presente no título da tese.
Artigo 1: Objetivo: Avaliar o padrão de mortalidade por diabetes mellitus (DM), no Brasil, de
1980 a 2012, segundo sexo. Método: Estudo ecológico de séries temporais. Seleção de óbitos
por DM, em adultos com 20 anos ou mais de idade, no Sistema de Informações sobre
Mortalidade, utilizando tanto a abordagem de causas básicas (1980 a 2012), quanto a de
múltiplas causas de óbito (2001 a 2012). Cálculo dos coeficientes de mortalidade
padronizados para população mundial por idade (ASMR), segundo sexo. Uso da análise de
regressão log-linear joinpoint para identificação dos anos em que ocorreram mudanças
significativas na tendência e para estimativa da variação percentual anual da mortalidade.
Resultados: Entre 1980 e 2012, o ASMR entre os homens aumentou de 20,8 para 47,6 por
100.000 habitantes (aumento de 2,9% ao ano), e entre as mulheres de 28,7 para 47,2 por
100.000 habitantes (aumento de 1,7% ao ano). Em relação à análise de múltiplas causas de
óbito, entre 2001 e 2012, o ASMR aumentou de 76,1 para 95,6 por 100.000 habitantes
(aumento de 2,4% ao ano), entre os homens, e de 83,7 para 93,3 por 100.000 habitantes
(aumento de 1% ao ano), entre as mulheres. Conclusão: Os resultados encontrados sugerem
que a mudança da preponderância feminina para um padrão de igualdade, ou mesmo de
predomínio masculino, já pode ser observada nas estatísticas brasileiras de mortalidade.
Artigo 2: Objetivo: Investigar a presença de efeito modificador do status socioeconômico
(SSE) na associação entre sexo e prevalência de diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Métodos:
Estudo observacional, do tipo transversal, com 14.156 servidores públicos, com idade entre
35 e 74 anos, de seis capitais brasileiras, participantes da linha de base do Estudo
Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), realizado entre 2008 e 2010. Estimou-se a
prevalência de DM2 bruta e ajustada por idade, segundo sexo e classe social da ocupação
(marcador de SSE), empregando modelos lineares generalizados com distribuição binomial e
função de ligação logaritmo neperiano. Esse modelo também foi usado para a estimativa das
razões de prevalência (RPs) de DM2, ajustando para faixa etária, raça e escolaridade materna
e tendo como referências o sexo feminino e a alta classe social da ocupação. O efeito
modificador da classe social da ocupação na associação entre sexo e prevalência de DM2 foi
medido na escala multiplicativa e aditiva. Resultados: Observou-se maior prevalência
masculina de DM2, em todos os estratos de classe social da ocupação, embora sem
significância estatística na baixa classe social da ocupação. O sexo masculino foi associado a
uma RP maior em 66% (RP=1,66; IC95%: 1,44-1,90), 39% (RP=1,39; IC95%: 1,02-1,89) e
28% (RP=1,28; IC95%: 0,94-1,75), na alta, média e baixa classe social da ocupação,
respectivamente. Também se verificou um efeito modificador negativo da classe social da
ocupação na associação entre sexo e DM2 na escala multiplicativa. Conclusão: Os resultados
encontrados sugerem que o status socioeconômico atua como modificador de efeito na
associação entre sexo e DM2, indicando que as desigualdades em saúde entre homens e
mulheres não incidem da mesma forma em todos os estratos de classe social da ocupação.
Em síntese, verificaram-se diferenças de sexo na prevalência e mortalidade por diabetes
mellitus no Brasil, com indicação de preponderância masculina nos dois desfechos avaliados.
As razões definitivas para essas diferenças permanecem incertas e necessitam de estudos
adicionais. No entanto, esses resultados apontam que, para a prevenção, diagnóstico e gestão
desse agravo à saúde devem ser estimuladas políticas públicas e ações focalizadas na
diminuição das assimetrias de gênero, colocando em evidência que as relações socioculturais
historicamente construídas entre homens e/ou mulheres não são determinadas biologicamente,
sendo passíveis de mudança.
Description
Keywords
Epidemiologia, Epidemiology, Mortalidade, Mortality, Estudos de Séries Temporais, Time Series Studies, Modelos Estatísticos, Models Statistical, Prevalência, Prevalence, Diabetes Mellitus, Saúde de Gênero, Gender and Health, Fatores Socioeconômicos, Socioeconomic Factors, Fatores de Risco, Risk Factors
Citation
MALHÃO, Thainá Alves. Diabetes e gênero: diferenças na mortalidade, prevalência e modificação de efeito do status socioeconômico. 2017. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2017.