Análise de alterações epigenéticas em trabalhadores de postos de combustíveis expostos ao benzeno no município do Rio de Janeiro.
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Introdução: O benzeno é um hidrocarboneto policíclico aromático reconhecido pela International Agency for
Research on Cancer (IARC) como carcinogênico para humanos (grupo 1A) devido à sua toxicidade ao sistema
hematopoiético. Por estar presente em elevadas concentrações na gasolina (1% v/v), expõe milhares de pessoas
que trabalham ou transitam pelos postos de combustíveis aos seus potenciais efeitos carcinogênicos. Portanto,
conhecer e compreender a ação e interação da substância no organismo é fundamental para a prevenção de
danos decorrentes da exposição ao benzeno e, consequentemente, prevenir o desenvolvimento de doenças
como o câncer. Materiais e Métodos: Este foi um estudo de delineamento transversal realizado entre os anos
2014 a 2016 com trabalhadores de postos de revenda de combustíveis (Centro e Zona Sul). Com dois grupos de
estudo de trabalhadores expostos ocupacionalmente ao benzeno: Grupo 1 – exposição apenas por via inalatória
e Grupo 2 – exposição por via inalatória e dérmica. Também foi formado um grupo de comparação toxicológica
com trabalhadores sem exposição ocupacional ao benzeno. Todos maiores de 18 anos com prévia autorização
por assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As informações socioeconômicas e
clínicas foram coletadas por meio da aplicação de questionários e foi realizada coleta de urina para a avaliação
do biomarcador de exposição (ácido trans,trans-mucônico – AttM) e de sangue para análises de genotoxicidade
(ensaio cometa) e das alterações epigenéticas. O perfil de metilação dos elementos transponíveis (LINE-1 e Alu)
e de genes de reparo MGMT, PARP-1 e MSH3 foi avaliado por pirossequenciamento. Resultados: O estudo
contou com a participação de 217 indivíduos, sendo 69 não expostos, 74 do grupo 1 e 74 do grupo 2. No grupo
exposto, a maioria eram homens, não brancos, com baixa escolaridade e renda familiar de até três salários
mínimos. Neste grupo, a maioria eram trabalhadores de loja de conveniência (grupo 1) e frentistas (grupo 2). No
grupo exposto, 16,9% apresentaram um nível de AttM na urina maior que 0,5 mg/g de creatinina, ou seja, níveis
acima do limite estabelecido pela legislação brasileira. O grupo exposto apresentou também maiores níveis de
dano genotóxico comparado ao não exposto. Porém, estes níveis não foram correlacionados com a
concentração de AttM na urina dos mesmos indivíduos. Os níveis de metilação de LINE-1 foram maiores no
grupo 2 em comparação ao grupo 1 e não exposto. Por outro lado, Alu foi encontrado hipometilado nos grupos
expostos em comparação ao grupo não exposto, sendo essa redução mais pronunciada no grupo 1. Em relação
aos genes de reparo, a região promotora de MGMT foi encontrada hipometilada no grupo 2 em comparação aos
outros grupos. Menores níveis de metilação de MGMT também foram encontrados nos indivíduos expostos ao
benzeno com danos genotóxicos em comparação aos indivíduos sem danos. PARP-1 e MSH3 foram
encontrados mais metilados no grupo 1 em comparação a indivíduos não expostos ou grupo 2. Conclusão: O
AttM urinário não foi capaz de predizer os efeitos genotóxicos ou alterações hematológicas, sugerindo que este
não seja um bom biomarcador de efeitos deletérios do benzeno. Além disso, a exposição ocupacional ao
benzeno foi capaz de afetar os níveis globais de metilação e de genes de reparo o que, em alguns casos, foi
dependente da via de exposição (inalatória ou inalatória e dérmica). Assim, nosso trabalho sugere que o
benzeno pode atuar também por mecanismos não genotóxicos. Uma vez que as alterações epigenéticas são
precoces, sensíveis ao ambiente e reversíveis, elas podem representar um importante mecanismo de
biomonitoramento e prevenção dos danos causados pela exposição ocupacional ao benzeno.
Description
163 p.: il. color.
Citation
SILVA, Paula Vieira Baptista da. Análise de alterações epigenéticas em trabalhadores de postos de combustíveis expostos ao benzeno no município do Rio de Janeiro. 2020. Dissertação (Mestrado em Oncologia) - Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, 2020.