Doença não dá em poste: linguagens no contexto do câncer
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Este trabalho analisa a coexistência de diferentes linguagens no contexto do câncer,
destacando que algumas dessas linguagens podem ser mais violentas do que outras, uma
vez que, ao invés de proporcionarem um esteio ao sujeito, acabam abandonando-o à
própria sorte. Usamos o conceito de jogos de verdade de Michel Foucault e as noções de
saúde e doença de Georges Canguilhem para buscar compreender como certas práticas
no campo da saúde se valem de dispositivos de poder para, por processos de subjetivação,
se inscrever nos corpos dos sujeitos. Em seguida, identificamos na teoria do trauma de
Sándor Ferenczi, as ideias de linguagem da ternura e linguagem da paixão, esta referida
sobretudo a um abuso ou exagero e aquela, essencialmente a uma vulnerabilidade, para
comparar o desnorteamento descrito pelo autor com a sensação de vertigem
frequentemente experimentada pelos pacientes na confirmação do diagnóstico
oncológico. Se por um lado, os avanços tecnológicos têm possibilitado uma detecção
precoce da doença e uma maior disponibilidade de tratamentos, o que tem se refletido em
um aumento do tempo e da qualidade de vida do paciente de câncer, por outro lado, a
ciência ainda tem muitas perguntas a serem respondidas. Paralelamente a isso, apesar do
investimento público expressivo na pesquisa e no tratamento para o câncer, o Sistema
Único de Saúde (SUS) não consegue garantir a todos os seus pacientes um cuidado
integral e equânime. Assim, quando as dúvidas, incertezas e angústias vividas no
desenrolar do tratamento não podem ser acolhidas e validadas, outras linguagens, como
metáforas bélicas e discursos moralizantes, acabam por ocupar o terreno. Nesse cenário,
o refúgio para o sujeito deve ser um cuidado necessariamente coletivo, onde o saber possa
conviver com o não-saber, de modo a viabilizar espaços e momentos de espontaneidade
e criação de uma linguagem própria, potente e viva.
Description
21 p.
Citation
SANTOS, Maria Bulhões-Peixoto de Miranda. Doença não dá em poste: linguagens no contexto do câncer. 2024. Trabalho de conclusão de curso (Residência Multiprofissional em Oncologia) – Instituto Nacional do Câncer, Rio de Janeiro, 2024.