Grave comprometimento neurológico em adolescente do sexo masculino, portador de neoplasia sólida em controle, com causalidade relacionada à positividade do Herpes Vírus Humano 7 no líquido cefalorraquidiano

Abstract

As encefalites se caracterizam pelo acometimento inflamatório do parênquima cerebral. Existem diversos agentes virais causadores, sendo os vírus da família herpes os mais comuns. Dentre eles, o tipo 7 não costuma estar associado a casos acima de cinco anos, faixa etária mais acometida pelos herpes simples tipo 1 e 2. Quando a infecção primária pelo tipo 7 ocorre tardiamente, manifesta-se com grave acometimento neurológico. Pela raridade na apresentação, a pesquisa na literatura através do PubMed através das palavras-chave herpes, ganciclovir, encephalitis, human herpesvirus 7, HHV-7 mostrou escassez de publicações quanto à melhor abordagem diagnóstica e terapêutica. No presente relato, obtido através dos registros de prontuário, exames e entrevistas de um paciente admitido em 2015 na Unidade Intensiva Pediátrica do Instituto Nacional de Câncer no Rio de Janeiro, um adolescente com história de neoplasia de nasofaringe em acompanhamento ambulatorial apresentou quadro de crises convulsivas e febre, inicialmente interpretadas como de origem bacteriana. No entanto, houve falência de resposta sustentada a antibioticoterapia de largo espectro e, posteriormente, aciclovir. Exames laboratoriais e de imagem descartaram etiologia metabólica e recidiva tumoral. Contudo, a análise mais detalhada de uma nova punção do líquido cefalorraquidiano (LCR) demonstrou positividade para o herpes vírus humano tipo 7 (HVH-7), sendo iniciado ganciclovir com significativa resposta e normalização posterior de nova amostra do LCR. Esse relato de caso é de suma importância ao se juntar aos poucos artigos que abordam esse tema, somando-se às experiências prévias cuja identificação do HVH-7 baseou-se na reação em cadeia polimerase (PCR) associada a resultado sorológico compatível e cujo tratamento com ganciclovir e não aciclovir parece ser satisfatório. Entretanto, o caso reforça a necessidade de estudos mais aprofundados dessa rara, mas potencialmente letal apresentação tardia, cuja possibilidade de tratamento apenas ocorre na presença da suspeição, uma vez que a droga comumente utilizada nas encefalites virais não parece contemplá-la.