Perfil clínico-patológico de pacientes com desordens fotossensíveis acometidos por carcinoma de células escamosas de lábio tratados no Instituto Nacional de Câncer/RJ de 1999 a 2009

Abstract

Introdução: O câncer de lábio acomete a junção entre a cavidade oral e a pele, afetando predominantemente homens brancos e idosos. O tipo histopatológico mais frequente é o carcinoma de células escamosas. Esse carcinoma ocorre em 80% dos casos no lábio inferior e resulta principalmente da exposição crônica à luz ultravioleta (UV) da radiação solar, especialmente UVB. Os efeitos deletérios da radiação UV podem ser observados em pacientes portadores da síndrome xeroderma pigmentoso, em que as células apresentam a incapacidade de reparar corretamente lesões de DNA induzidas por UV. O lúpus eritematoso e o albinismo são respectivamente, desordens auto-imunes e genéticas, em que os afetados, apresentam maior risco de desenvolvimento de neoplasias fotoinduzidas em região de pele e de lábios. A OMS, em 2005, descreveu condições cancerizáveis citando o xeroderma pigmentoso e lúpus eritematoso entre outras, mas não o albinismo. Objetivo: Esse estudo teve como objetivo estabelecer o perfil clínico-patológico dos pacientes com carcinoma de células escamosas de lábio, portadores de xeroderma pigmentoso, lúpus eritematoso e albinismo e compará-los com pacientes com carcinoma de células escamosas sem essas alterações, todos tratados no INCA de 1999 a 2009 e analisar a sobrevida livre de doença e global desses pacientes. Metodologia: A coleta de dados foi realizada através de uma análise retrospectiva, descritiva e observacional dos prontuários de pacientes com diagnóstico de carcinoma de células escamosas de lábio, portadores de xeroderma pigmentoso, de lúpus eritematoso e de albinismo tratados no INCA de 1999 a 2009. Também foi feita a coleta de dados dos prontuários de pacientes com diagnóstico de carcinoma de células escamosas de lábio, porém sem história médica de doenças sistêmicas relacionadas à vulnerabilidade de neoplasias fotoinduzidas. Resultados: A média de idade nos pacientes fotossensíveis e não-fotossensíveis, foi respectivamente, 39,9 anos e 62,5 anos. Em relação à idade foi encontrada diferença significativa (p=0,0007) entre os dois grupos, onde o CCE de lábio nos pacientes fotossensíveis surgiu em idades muito mais precoces (abaixo dos 40 anos). Em relação ao sexo, o predominante nos dois grupos foi o masculino, porém esse dado não teve significância estatística. Os grupos dos fotossensíveis e não-fotossensíveis apresentaram, em sua maioria pacientes analfabetos ou com primeiro grau incompleto. Quanto ao tabagismo no grupo de fotossensíveis a maioria dos indivíduos era não tabagista contrapondo com o grupo de não-fotossensíveis onde predominavam pacientes tabagistas (p=0,035). Tal diferença não foi observada com relação ao etilismo (p=0,19). Em relação ao TNM patológico (pTNM), os estágios mais encontrados nos dois grupos foram I e II, em ambos os grupos. Não foi observada diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos de pacientes com relação à sobrevida global e à sobrevida específica. Quanto à sobrevida livre de doença houve uma diferença significativa (p=0,0006) entre os pacientes fotossensíveis e os não fotossensíveis. Conclusão: Os pacientes fotossensíveis apresentam CCE em lábio inferior em idades mais precoces e com maior índice de recorrência comparado aos pacientes diagnosticados com CCE de lábio inferior sem histórico de doenças fotossensíveis. Ainda, pacientes portadores de albinismo mostram que também apresentam vulnerabilidade a desenvolver CCE de lábio, embora o albinismo não esteja incluído como condição cancerizável na última classificação da OMS.