Impacto da radioterapia adjuvante na sobrevida global e sobrevida livre de doença em pacientes do INCA

Abstract

Introdução: O câncer de mama é considerado o câncer com maior incidência e prevalência no sexo feminino e a sobrevida em países latino-americanos em geral encontra-se, em média, 20% abaixo daquela em países europeus e nos EUA. E dentre algumas das opções terapêuticas se encontra a radioterapia adjuvante com o objetivo de erradicar quaisquer depósitos tumorais remanescentes após a cirurgia para pacientes tratados por cirurgia conservadora da mama ou mastectomia. Alguns ensaios clínicos randomizados indicam um possível “efeito abscopal” em que a adição de radioterapia a cirurgia também pode reduzir o risco de recorrências distantes, diminuindo assim a mortalidade específica do câncer de mama. Objetivo: Analisar a incidência de recidiva, metástase e óbito, além de estimativa de sobrevida livre de doença e sobrevida global de acordo com a realização ou não de radioterapia adjuvante Método: Estudo do tipo coorte retrospectiva em mulheres com diagnóstico de câncer de mama no HCIII / INCA, no período de 2006 a 2010, do estádio I ao III e que foram submetidas a radioterapia adjuvante sendo realizado coleta de dados no Cadastro de Registro Hospitalar de Câncer do HCIII/INCA, complementadas por busca ativa nos prontuários físicos e eletrônicos, além de um instrumento de coleta de dados que foi elaborado exclusivamente para este estudo. Características sócio demográficas (idade do diagnostico, sexo, raça, escolaridade e estado civil), variáveis relacionadas ao tumor primário (data do diagnóstico, tipo histológico, estadiamento, status axilar, grau histológico, imunohistoquímica e terapia aplicadas) e evolução da doença (metástases, óbito e sobrevida global) foram avaliadas. Resultados: A população do estudo compreendeu 1771 mulheres. Nos estadiamentos iniciais (I a IIA) foram encontradas 964 mulheres (54,4%) e 807 (45,6%), em estadiamentos avançados (IIB – III). O tipo histológico mais prevalente foi carcinoma ductal infiltrante, em 81,3% das pacientes avaliadas e o subtipo molecular mais frequente foi luminal A, correspondendo a 65,3% das pacientes e o segundo mais frequente foi o triplo negativo com 12,9%. O grau histológico mais frequente foi grau 3, com 668 das pacientes (50,4%). Sobre os tratamentos concomitantes, no grupo que foi submetido a radioterapia, 35,5% foram submetidas também a quimioterapia neoadjuvante, 44% a quimioterapia adjuvante e 73,6% a hormonioterapia adjuvante. 27,4% não realizaram qualquer tipo de quimioterapia. Quanto ao tratamento cirúrgico da mama nas pacientes que realizaram radioterapia adjuvante, 65,5% foram submetidas à mastectomia e 34,5% a segmentectomia e em relação a abordagem axilar, 25,1% foram submetidas a biópsia do linfonodo sentinela e 60,4% fizeram linfadenectomia axilar. Considerando recidiva ou metástase, foi encontrado 29% nas que realizaram radioterapia adjuvante, e 22,9 % nas que não realizaram o procedimento. Em relação aos óbitos, relacionado ou não a evolução do câncer, foi encontrada taxa de 29,3% tanto nas que fizeram, como nas que não foram submetidas a radioterapia adjuvante. Para as pacientes que realizaram radioterapia adjuvante a média de sobrevida livre doença foi de cerca de 94 meses e sobrevida global de cerca de 100 meses, já em pacientes que não foram submetidas ao mesmo procedimento, a média de sobrevida livre de doença foi de cerca de 98 meses e sobrevida global em cerca de 100 meses. Conclusão: A radioterapia adjuvante já é tratamento bem estabelecido no cenário do câncer de mama, e a possibilidade de um efeito “abscopal” interferir positivamente na história natural da doença melhorando sobrevida livre de doença e sobrevida global não foi encontrada na avaliação dos nossos dados, bem como, não houve diferença na comparação dos dados em relação a presença de recidivas ou metástases em pacientes que realizaram ou não o procedimento.