Cenário assistencial para confirmação diagnóstica do câncer de mama no município do Rio de Janeiro: necessidade e viabilidade de um Centro Diagnóstico no Hospital do Câncer III.

Abstract

O câncer de mama no Brasil apresenta elevadas taxas de incidência e mortalidade com diagnóstico em estadiamento avançado. Pacientes sintomáticos e assintomáticos, com suspeita de câncer em exames radiológicos, devem ser referenciadas para confirmação diagnóstica, através de estratégias eficazes que promovam a detecção e o tratamento mais precoce. O objetivo deste estudo foi avaliar a necessidade e viabilidade de um Centro Diagnóstico de Câncer de Mama (CDCM) no Hospital do Câncer III do Instituto Nacional de Câncer, no município do Rio de Janeiro. Estudo descritivo transversal com abordagem quanti-qualitativa. Foi estimado: o total de mulheres da faixa etária de 50 a 69 anos, para o rastreamento, e as sintomáticas, usuárias do SUS, residentes no município; a necessidade de biópsias mamárias para a linha de cuidado do câncer de mama na população usuária exclusivamente do SUS; o cenário da oferta de biópsias mamárias; os problemas do fluxo de encaminhamento da rede do município e do estado do Rio de Janeiro na linha de cuidado do câncer de mama; a estrutura existente no HCIII/INCA e a realização de procedimentos diagnósticos de câncer de mama. Estima-se que teria sido necessário realizar, no ano de 2022, 8.150 biópsias de mama para atender a população feminina do município do Rio de Janeiro, onde 2.941 seriam provenientes do rastreamento e 5.209 biópsias para investigação de lesões suspeitas do câncer de mama em mulheres sintomáticas. Considerando a produção de mamografias informadas no SIA/SUS, foram realizadas 55.478 mamografias de rastreamento na população alvo, representando 31,69% das necessárias e 14.182 mamografias diagnósticas, representando 36,08% do total necessário. A partir dessa produção estimou-se que seriam necessárias 3.869 biópsias de mama para atender a demanda de todas as mulheres com alterações suspeitas que precisariam de investigação histopatológica por biópsia. Em 2022, o Sistema de Regulação, disponibilizou um total de 3.006 vagas para biópsias. Essa oferta atende 77,69% da necessidade estimada a partir das mamografias informadas no sistema de informação do SUS. No entanto, considerando a necessidade estimada para a população dependente exclusivamente do SUS, o déficit de biópsias foi de 63,11%. O estudo identificou a necessidade de ampliar a oferta de biópsias. Como a cobertura de mamografias de rastreamento é abaixo da necessária, há uma subestimação da necessidade de biópsias que é avaliada pelos gestores como suficientes. O estudo também identificou problemas nos sistemas de regulação, ausência de mecanismos para monitorar o tempo diagnóstico e problemas com recursos humanos que assegurem o planejamento da oferta de biópsias. Para viabilizar um centro diagnóstico de mama no HCIII é necessário considerar os recursos humanos, o aumento de custo associado a oferta de procedimentos e a capacidade operacional dos equipamentos envolvidos. A articulação entre os níveis de gestão pode contribuir para viabilizar a ampliação da oferta de biópsias.