Avaliação da efetividade do tratamento do tabagismo em pacientes oncológicos: a experiência do Instituto Nacional de Câncer (INCA/RJ)

Abstract

O Tabagismo é a principal causa de óbitos evitáveis no mundo. Os pacientes oncológicos que continuam a fumar têm pior prognóstico comparados àqueles que param de fumar. A despeito disso, poucos pacientes são referidos para os programas de cessação do tabagismo nos centros oncológicos. Foi realizado um estudo observacional, de coorte retrospectivo, com o objetivo de avaliar a efetividade do tratamento do tabagismo em pacientes com câncer no Centro de Estudos para Tratamento da Dependência de Nicotina do Instituto Nacional de Câncer (INCA/RJ) entre 01/01/2019 e 28/02/2023. O desfecho utilizado foi o autorrelato de cessação do tabagismo, nos últimos sete dias, após seis meses. Análises de regressão logística foram utilizadas para estimar a magnitude da associação entre as variáveis selecionadas e o desfecho. Foram avaliados 211 pacientes. Do total, 67 (31,8%) estavam sem fumar após seis meses. A maioria era do sexo feminino (n=114, 54,0%). Cerca de metade tinha 60 anos de idade ou mais (50,2%). Os tumores mais frequentes foram os de cabeça e pescoço (27,5%), geniturinários (18%), digestivos (14,2%) e brônquios e pulmões (14,2%). Três quartos já tinham tentado parar de fumar pelo menos uma vez (n=157, 75,5%). Do total, 94 (45,4%) tinham dependência intensa ou muito intensa à nicotina (escore do teste de Fagerström > 5); 91 (44,0%) fumavam o primeiro cigarro em até 5 minutos após acordar e 49 (23,7%) fumavam mais de 20 cigarros por dia. Cerca de um terço dos pacientes (n=68, 32,2%) compareceu a quatro ou mais consultas. Mais de 90% utilizaram algum medicamento auxiliar da cessação, seja bupropiona ou terapia de reposição de nicotina. A análise de regressão logística multivariada mostrou que, comparados com os pacientes de raça/cor branca, os de raça/cor não branca apresentaram uma chance menor de cessar o tabagismo (OR = 0,37; IC 95%: 0,19 - 0,72). Comparados com os pacientes casados ou que vivem com companheiro(a), os que não vivem com companheiro(a) tiveram uma chance menor de cessar o uso de tabaco (OR = 0,46; IC 95%: 0,23 - 0,92). Os pacientes que realizaram intervenção cirúrgica tiveram uma chance maior de parar de fumar do que os que não fizeram (OR = 2,48; IC 95%: 1,04 – 5,96). Quem compareceu a quatro ou mais consultas teve uma chance maior de cessar o tabagismo do que quem compareceu a menos de quatro (OR = 2,58; IC 95%: 1,31 – 5,11). Nossos resultados apontam para a necessidade de melhorias no serviço com objetivo de aperfeiçoar a qualidade e completude dos registros, reduzir as desigualdades relacionadas à raça/cor, sensibilizar os profissionais de saúde sobre a importância do tratamento do tabagismo e do encaminhamento dos pacientes fumantes para o tratamento intensivo da dependência de nicotina, visando aumentar as taxas de cessação do tabagismo entre os pacientes oncológicos.