Avaliação muscular diafragmática medida por ultrassonografia e análise de funcionalidade em pacientes oncológicos durante a internação em unidade de terapia intensiva

Abstract

Introdução: A doença crítica pode ser definida como o agravamento de uma doença resultando em disfunção orgânica, exigindo técnicas avançadas de suporte, sendo associada à alta morbidade e mortalidade. Pacientes com câncer representam de 15% a 20% dos admitidos em unidades de terapia intensiva (UTI). A perda de massa muscular é uma das consequências da doença crítica para todos os perfis de pacientes e pode atingir 2% por dia de internação, podendo superar 15% em uma semana. Disfunção orgânica, sepse, ventilação mecânica prolongada e imobilismo são alguns fatores de risco que levam a fraqueza e atrofia muscular. A fraqueza do diafragma está associada à alteração da função pulmonar, ao prejuízo no desmame ventilatório e ao aumento da mortalidade. Considerando que a perda muscular generalizada é frequente em pacientes oncológicos, a internação crítica pode potencializar a fraqueza e a disfunção diafragmática levando a complicações ventilatórias e atrofia muscular. A avaliação da musculatura através da ultrassonografia tem sido utilizada de forma complementar nesse cuidado. A funcionalidade dos pacientes pode ser avaliada por meio de duas escalas validadas: a Eastern Cooperative Oncology Group Performance Status Scale (ECOG Performance Status Scale) e a Intensive Care Unit Mobility Scale (IMS). Em dois estudos recentes do nosso grupo, as medidas obtidas para a espessura diafragmática de pacientes oncológicos críticos em ventilação mecânica invasiva, se mostraram inferiores aos valores indicados na literatura para pacientes críticos sem diagnóstico oncológico. Objetivo: Identificar as características estruturais e funcionais do músculo diafragma por meio da ultrassonografia, além de acompanhar a evolução da funcionalidade em pacientes oncológicos, submetidos ou não à ventilação mecânica invasiva, ao longo da internação na UTI, em um centro de referência oncológica. Métodos: Trata-se de um estudo coorte longitudinal prospectivo, realizado entre janeiro e fevereiro de 2025, na Unidade de Terapia Intensiva adulto do Hospital do Câncer I, do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Os pacientes admitidos na UTI foram avaliados nas primeiras 24 horas e a cada 3 dias até a alta. Foram avaliados ultrassonografia diafragmática e as escalas ECOG Performance Status e IMS. Foram incluídos 20 participantes e coletados dados sociodemográficos e clínicos. Resultados: Encontramos que a fração de espessamento (FE), foi menor ou igual a 20% em metade dos pacientes no primeiro dia de avaliação (D1). Os pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva (VMI) tiveram redução da espessura diafragmática inspiratória (Tdi-insp) de 0,04 cm. Nas escalas de funcionalidade 90% dos pacientes submetidos a VMI mantiveram ou reduziram a pontuação na escala IMS e 70% dos pacientes permaneceram com pontuação 4 pela escala ECOG Performance Status. Conclusão: Pode-se observar um declínio da Tdi-insp ao longo da internação e uma FE reduzida no primeiro dia de internação. A maioria dos pacientes não atingiram o marco motor de sedestação a beira leito e não obtiveram melhora nas escalas de funcionalidade. Mais estudos são necessários para identificar o perfil dos pacientes admitidos na UTI com FE reduzida.