Metástases hepáticas tardias em carcinoma espinocelular de orofaringe HPV positivo: um desfecho inesperado

Abstract

INTRODUÇÃO: O carcinoma espinocelular de orofaringe apresenta dois perfis etiopatogênicos distintos: relacionados ao abuso de tabaco e/ou álcool; e o subtipo mais recente associado ao vírus do papiloma humano (HPV). As taxas de controle locorregional são excelentes na maioria dos pacientes p16-positivos, e os desfechos negativos são principalmente atribuídos à metástase distante (MD). A taxa de MD varia de 5% a 12% em casos não cirúrgicos e de 2% a 6% em casos cirúrgicos¹. OBJETIVO: Relatar um caso raro de metástase hepática cística múltipla originada de carcinoma espinocelular HPV 16-positivo da amígdala palatina e demonstrar que tumores HPV-positivos podem se comportar de maneira agressiva MÉTODOS: Revisão da literatura sobre padrões de metástase de tumores orofaríngeos HPVpositivos e relato de caso raro. RESULTADOS: Paciente do sexo masculino, 45 anos, com diagnóstico de OPSCC HPV-positivo (T2N2cMx) foi submetido a ressecção assistida por robô e quimiorradiação adjuvante. Exames de imagem de seguimento foram realizados, sem evidências de alterações sugestivas de recidiva locorregional ou metástase distante durante os primeiros anos. No entanto, quatro anos após o diagnóstico inicial, uma tomografia computadorizada com contraste mostrou fígado aumentado com múltiplas lesões císticas positivas para células malignas (p16+). O paciente faleceu poucos dias depois. Analisando estudos atuais sobre metástases distantes no carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, observou-se que a sobrevida histórica era de 6-9 meses com terapia paliativa. No entanto, o prognóstico e a sobrevida em casos com metástases distantes são significativamente melhores. Cerca de 20% das metástases distantes HPV-positivas apresentaram um caráter "explosivo" (semelhante ao nosso caso), caracterizado por numerosas lesões metastáticas ocupando quase todo o órgão, como pulmão ou fígado, e se desenvolvendo em um período relativamente curto. Nosso caso ilustra um paciente com metástases hepáticas císticas múltiplas quatro anos após o diagnóstico, mesmo após tratamento completo com cirurgia associada à quimiorradiação e controle locorregional. Esta aparência incomum de metástases distantes, que levam à insuficiência hepática, demonstra que tumores HPV-positivos têm potencial agressivo. CONCLUSÃO: A metástase distante do carcinoma espinocelular HPV-positivo, embora rara, apresenta um prognóstico ruim e pode ter apresentações incomuns. A conscientização sobre o comportamento clínico atípico é importante. Isso inclui considerar a frequência e o tipo de exames radiológicos para vigilância pós-tratamento e estadiamento inicial. Estudos de desintensificação do tratamento têm sido bemsucedidos no controle locorregional, mas a redução das metástases distantes não está bem estabelecida.