Características da população feminina com resultado BI-RADS® 3 no rastreamento mamográfico e seguimento segundo critérios de qualidade no Brasil

Abstract

O câncer de mama é o mais incidente na população mundial feminina e é também o de maior mortalidade, sendo um problema real de saúde pública. O rastreamento e o diagnóstico precoce, assim como o tratamento oportuno são fundamentais na redução dos indicadores de morbimortalidade. No Brasil é recomendada a realização de mamografia, a cada dois anos, para mulheres de 50 a 69 anos, segundo as Diretrizes para Detecção Precoce do Câncer de Mama. Após realizados esses exames, o laudo das mamografias no Sistema Único de Saúde (SUS) é emitido pelo Sistema de Informação do Câncer (SISCAN) que utiliza o sistema de classificação BI-RADS®. Quando o resultado da mamografia é BI-RADS® 3, é preconizado o seguimento com controle radiológico a curto prazo, visto que os achados são provavelmente benignos. Este estudo teve como objetivo analisar a conduta e o seguimento dessas mulheres no SUS. Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva, utilizando dados do SISCAN, referente ao período de 2018 a 2023. A população investigada compreendeu mulheres assintomáticas de 40 a 69 anos que realizaram mamografia de rastreamento, em 2018 e 2019, com resultado BI-RADS® 3 e com seguimento ate 2023. Foram avaliadas as características sociodemográficas, clínicas, tempo de seguimento, evolução dos laudos e a qualidade dos serviços. Observou-se que, das 75.180 mulheres com resultado BI-RADS® 3, 64,6% realizaram algum tipo de seguimento. A adesão ao seguimento foi maior entre aquelas com maior idade e histórico de mamografia prévia. A proporção de mudança para categorias mais suspeitas (BI-RADS® 4 ou 5) no seguimento foi pequena, confirmando a baixa taxa de malignidade esperada para essa categoria. Identificou-se variações importantes quanto ao tempo e à adequação da conduta preconizada, além de desigualdades regionais e entre serviços, com diferentes níveis de conformidade com os critérios de qualidade estabelecidos. A maioria dos estabelecimentos do SUS que realizaram mamografias de rastreamento não atenderam aos critérios mínimos de produção e laudos BI-RADS®, o que pode comprometer a efetividade do rastreamento. Conclui-se que, apesar da baixa taxa de malignidade associada ao BI-RADS® 3, a qualidade da mamografia e o seguimento adequado apresentaram fragilidades para garantir a efetividade do rastreamento e evitar atrasos no diagnóstico de possíveis casos malignos. O estudo destaca a necessidade de fortalecimento da organização da rede de atenção, monitoramento sistemático dos serviços e investimento em qualificação profissional para garantir um cuidado efetivo e seguro no rastreamento mamográfico.