Local de óbito de pacientes com câncer no Brasil: uma análise de informações populacionais

Abstract

O câncer é uma das principais causas de mortalidade no mundo. O grupo de pacientes que morre por câncer beneficiar-se-ia com uma abordagem focada na qualidade de fim de vida; o local de óbito é um importante indicador deste parâmetro. No Brasil não há estudos de base populacional de abrangência nacional que avalie o local de óbito destes pacientes. O objetivo deste estudo é descrever o local de óbito de pacientes que morreram por câncer no Brasil. Metodologia: Estudo ecológico de base populacional – SIM. Os registros foram obtidos por meio da PCDaS-FIOCRUZ. A seleção dos casos se deu pelo período de 1996-2017 e pelos códigos C00-C97 e D46 de acordo com a CID-10ª ed. As análises foram realizadas por faixa etária (0-14; 15- 39; 40-64; 65-74; >74). A variável dependente foi o local de óbito e as variáveis independentes analisadas foram: sexo, faixa etária, raça-cor, nível de escolaridade, estado civil, região geográfica e definição urbano vs. rural das cidades de residência e ocorrência do óbito, ano do óbito e causa básica do óbito. Foram realizadas análises descritivas e de associação por meio do teste de qui-quadrado e regressão logística multivariada para obtenção da Razão de Chances (OR) e IC99%. O teste de HosmerLemeshow foi utilizado para verificar a qualidade do ajuste e a correlação de Pearson para avaliar colinearidade. O teste Kappa foi utilizado para verificar a concordância entre tipologia e localização dos municípios de residência e ocorrência do óbito. Tendências temporais foram analisadas por meio do aplicativo Joinpoint. As demais análises foram realizadas em RStudio Server e SPSS 20.0; nível de significância de 99%. Resultados: A maioria dos óbitos se deu no ambiente hospitalar e esta proporção decresceu com o avanço da faixa etária. Pacientes do sexo feminino tiveram uma chance maior de morrer em casa, da ordem de 10,0%, em todas as faixas etárias, exceto 15-39. A chance de morrer em casa aumentou junto com a idade em todas as faixas etárias. A região Sudeste teve o maior percentual de óbitos hospitalares; grau de urbanização menor levou a uma chance de óbito domiciliar maior e houve incremento desta diferença nas faixas etárias mais avançadas; somente na população infantil não houve associação entre a acessibilidade do município de residência e o óbito domiciliar (OR 1,03 (IC99% 0,83-1,28)). Os pacientes que morreram por tumores sólidos tiveram uma chance maior de óbito domiciliar, sobretudo na população (15-39), onde o incremento de risco chegou a 4 vezes (OR 4,36 (IC99% 4,02-4,73)). Houve redução da proporção de óbitos domiciliares em todas as faixas etárias, com uma tendência de estabilidade no final do período estudado.